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Foto: Rovena Rosa/ Agência Brasil |
O Ministério da Educação (MEC) deve suspender a portaria que
estipula o cronograma de implementação do Novo Ensino Médio. Com isso, não
deverá haver mudança no formato do Enem 2024, como previsto inicialmente.
Embora os detalhes da suspensão da portaria ainda não tenham
sido divulgados, o ministro da Educação, Camilo Santana, disse nesta
segunda-feira (3) em entrevista ao "Diário do Nordeste" que as novas
diretrizes já implementadas desde 2022 não devem ser cobradas no Exame Nacional
do Ensino Médio (Enem).
O modelo do Novo Ensino Médio, vigente há dois anos, promove
alterações na grade curricular, aumenta a carga horária, dá possibilidade para
formação técnica e profissional e estabelece a oferta de disciplinas optativas
em todas as escolas do país.
"(...) Deveremos suspender qualquer mudança no Enem em
relação a 2024 por conta dessa questão do Novo Ensino Médio", disse Camilo
Santana.
Contexto: Neste ano,
quando mais alunos passaram a seguir o Novo Ensino Médio, o modelo passou a
receber críticas de entidades e mobilizou discussões acaloradas nas redes
sociais entre grupos que pediam ajustes e até a sua revogação completa.
Entre outros pontos, as críticas se referem à:
- Redução da carga horária dos conteúdos tradicionais.
- Possibilidade de ampliação da desigualdade entre escolas particulares e públicas diante da dificuldade de implantação do que prevê o Novo Ensino Médio.
Também nesta segunda, Camilo Santana disse que "não é
só simplesmente chegar e revogar; é preciso discutir [a reforma]". A pasta
já havia se pronunciado sobre o assunto ao dizer que faria uma "ampla
pesquisa com toda a comunidade escolar" para "corrigir
distorções".
Na tarde desta segunda, houve uma reunião do grupo de
trabalho coordenado pelo MEC que discute mudanças no ensino médio.
Segundo Vitor de Angelo, presidente do Conselho Nacional de
Secretários de Educação (Consed), que estava presente ao encontro, a reunião
serviu para debater a consulta pública em andamento sobre o tema.
Ainda de acordo com ele, a possibilidade de suspender a
reforma foi negada por Maurício Holanda, secretário de Articulação
Intersetorial e com os Sistemas de Ensino (Sase-MEC). “Nenhum passo foi dado
[sobre a suspensão]”, afirmou o presidente do Consed, que é secretário estadual
de Educação do Espírito Santo.
O que diz a portaria que deve ser suspensa?
A portaria 521 de 13 de julho de 2021 estabelece prazos para
que políticas nacionais (como a de distribuição de livros didáticos a escolas
públicas) e avaliações, como o Enem e o Sistema de Avaliação da Educação Básica
(Saeb), sejam modificadas pelas diretrizes do Novo Ensino Médio.
O Enem teria um novo formato já em 2024. A prova, que
atualmente é igual para todos os candidatos, passaria a ter uma etapa
específica, conforme as disciplinas optativas escolhidas pelo aluno na escola.
No caso do Saeb, 2025 é data de referência para publicação
das novas matrizes de avaliação.
Além disso, a portaria apresenta um calendário para as etapas da ampliação da carga horária e da implementação dos itinerários formativos em todas as escolas de Ensino Médio, conforme as datas abaixo:
- 2020: Elaboração dos referenciais curriculares dos estados e do Distrito Federal;
- 2021: Aprovação dos referenciais pelos respectivos Conselhos de Educação e formação dos profissionais da educação;
- 2022: Implementação do novo currículo no 1º ano do ensino médio;
- 2023: Expansão do modelo para o 2º ano do ensino médio;
- 2024: Adoção obrigatória em todos os anos do ensino médio;
- De 2022 a 2024: Monitoramento da implementação do modelo.
O que pensam as entidades?
Sobre a possibilidade de a portaria do Novo Ensino Médio ser
suspensa, o diretor-executivo da ONG Todos Pela Educação, Olavo Nogueira, disse
que “o momento exige mesmo um freio de arrumação, e nesse sentido, o mais
importante é o adiamento das mudanças no Enem".
A entidade aponta os seguintes problemas em relação ao atual cronograma:
- As redes de ensino não tiveram acesso a um documento detalhado sobre o que o Enem passaria a cobrar a partir de 2024;
- Não há definições sobre como a formação técnica e profissional seria avaliada nas provas nacionais;
- As obras do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) referentes ao novo ensino médio só começariam a ser recebidas pelas redes de ensino em 2024 - no mesmo ano, já seria aplicado o novo Enem;
- O calendário não considera que a pandemia tenha atrasado a implementação dos novos currículos.
Em nota, a União Nacional dos Estudantes (UNE) também se
mostrou a favor da suspensão da implementação do Novo Ensino Médio.
Para a entidade, isso representa uma "grande vitória
para os estudantes, professores e, sobretudo para a sociedade, que correria o
risco de ampliar abismos educacionais e impactar na democratização do acesso ao
ensino superior, que acompanhamos recentemente no país".
Fonte: G1
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