Gestantes redobram cuidados para
se proteger do zika vírus - relacionado à microcefalia. Médica alerta para
boatos sobre a doença
Com a pele sempre exalando cheiro de citronela por
causa do repelente e enfrentando o calor com um camada extra de roupas
compridas. Essa é a rotina da auxiliar administrativo Sara Machado, 27, que,
grávida de 18 semanas, tem redobrado os cuidados para afastar o mosquito Aedes
aegypti, vetor de doenças como a dengue, a chikungunya e o zika vírus. Por
conta de 40 casos suspeitos e um confirmado de microcefalia relacionada ao zika
vírus no Ceará, a doença tem preocupado Sara e muitas grávidas.
“A gente se preocupa com todas essas doenças. Meu filho mais velho, de 5
anos, já pegou dengue. Estou providenciando as telas para todas as janelas de
casa, uso o inseticida toda noite. E o que tem me afligido mesmo é esta
história da zika por conta da microcefalia”, resume Sara. Apesar de a gestação
dela já ter passado o período que o Ministério da Saúde institui como o que
requer mais atenção, que são os três primeiros meses de gestação, ela não
diminui os cuidados.
A recepcionista Amanda Xavier, 30, no segundo mês de gestação, vive este
período e tem sofrido principalmente com o calor “porque nos falam para usar
roupas compridas, mas, com o nosso clima, é difícil”, conta. Repelente usado
como indica o rótulo, ventilador sempre na velocidade mais alta e a inspeção para
que não fique nenhum foco de água parada em casa têm feito parte dos dias de
Amanda.
Moradora de Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza, a advogada
Juliana Padula, 33, entrou no quarto mês de gestação e, quando soube da relação
entre os casos de microcefalia e o Aedes aegypti, procurou uma dermatologista
para que fosse indicado o repelente mais adequado. “Fecho a casa inteira no
início da noite, acendo velas de citronela e tenho conversado com os vizinhos
para que todos olhem suas casas, cuidem das piscinas”, enumera, lembrando que
os cuidados se estendem à filha de 4 anos.
Cuidados
A médica pediatra e geneticista Erlane Ribeiro
reforça que o primeiro trimestre da gestação é o que exige mais zelo. Ela
lembra que o zika vírus é de uma família que tem como característica a
afinidade com o sistema nervoso central. “Mas é preciso que se mantenha a
atenção por toda a gestação. E todos devem se preocupar e fazer com que o
número de mosquitos diminua”, ensina.
A médica indica estratégias para se manter protegido do mosquito: “É
preciso estar atento à lista dos químicos indicados pela Anvisa (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária) para repelentes e inseticidas que têm
eficácia comprovada. Mas telas, velas de citronela podem ser usadas conjuntamente.
Nestas horas, vale até voltar para o costume das avós de usar mosquiteiros”,
indica.
Erlane ainda destaca que as pessoas devem se informar sobre a
microcefalia com fontes confiáveis. “Estão espalhando boatos sobre danos a
crianças maiores de 7 anos, sobre a vacina da rubéola ter gerado esse vírus,
sobre pessoas que tiveram zika antes da gravidez e isso ter comprometido o
feto. É tudo mentira. Não existe comprovação”.
Saiba mais
Produtos repelentes de uso tópico podem ser utilizados por gestantes desde
que estejam devidamente registrados na Anvisa e que sejam seguidas as
instruções de uso descritas no rótulo. Estudos conduzidos em humanos indicam
que o uso tópico de repelentes a base de n,n-Dietil-meta-toluamida (DEET) por
gestantes é seguro, mas não deve ser usado em crianças menores de dois anos.
Além do DEET, no Brasil são utilizadas em cosméticos as substâncias
repelentes Hydroxyethyl isobutyl piperidine carboxylate (Icaridin ou Picaridin)
e Ethyl butylacetylaminopropionate (EBAAP ou IR3535), além de óleos essenciais,
como citronela. Embora não tenham sido encontrados estudos de segurança
realizados em gestantes, estes ingredientes são reconhecidamente seguros para
uso em cosméticos.
Produtos saneantes e inseticidas podem ser
utilizados em ambientes frequentados por gestantes desde que sejam registrados
na Anvisa e que sejam seguidas as instruções de uso descritas no rótulo. Os
inseticidas “naturais” — à base de citronela, andiroba, óleo de cravo, entre
outros — não possuem comprovação de eficácia nem a aprovação pela agência até
momento.
Fonte: O Povo

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